quinta-feira, janeiro 08, 2015

LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SEU PREÇO

LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SEU PREÇO
Capa do tabloide francês Charlie Hebdo, de setembro de 2013 sob o título "Intocáveis" mostra rabino empurrando um muçulmano numa cadeira de rodas, que o alerta "não se deve zombar".

A Bíblia nos ensina a que sejamos "tardios para falar" (Tiago 1:19), certamente sugerindo que quem pensa mais para falar corre menos risco de falar o que não se deve, ou nem se pode...
Liberdade de expressão é algo reclamado e exigido por todo cidadão do mundo moderno e faz parte dos textos constitucionais da maioria das nações desta terra.
Há, no entanto, um dito popular que também não é bom que seja desprezado, utilizado certa vez pelo Romário, referindo-se a mais uma "pérola" proferida pelo Pelé: "quem fala o que quer, ouve o que não quer". Ou sofre o que não quer, como no caso do atentado terrorista ocorrido na quarta feira, 07/01/2015, contra a redação do pequeno jornal Charlie Hebdo, em Paris, onde radicais islâmicos assassinaram 12 pessoas.
Claro, nem em sonho, minha intenção aqui é justificar a barbaridade praticada por esses lunáticos, fanáticos e imbecis religiosos e de ideologia maligna. Nada, absolutamente nada, poderia justificar tamanha barbárie.
Mas, vamos a alguns fatos dignos de consideração.
O Charlie Hebdo nasceu na virada das décadas 1969/70 e se notabilizou pelo que os demais cartunistas e jornalistas pelo mundo a fora chamam de "crítica com um humor agressivo". Mentalizem o termo "agressivo"...
Jean Cabut, Tignous (em cima); Charb e Georges Wolinski, cartunistas do jornal; todos mortos no atentado de 7 de janeiro.

O primeiro de baixo, com barba e usando óculos, Stéphane Charbonnier, o cartunista "Charb", como ficou conhecido, era o diretor do tabloide. Após ter sofrido diversas ameaças de morte, vivia sob escolta policial e era autor da declaração: "prefiro morrer em pé do que viver de joelhos", em resposta às repreensões que sofria devido o que publicava como afronta aos muçulmanos. E provavelmente foi o que acabou acontecendo.
Os radicais islâmicos reclamam da falta de respeito da instituição jornalística para com a religião muçulmana bem como, e talvez principalmente, para com o profeta Maomé e o livro sagrado deles, o Corão. Mas talvez nem se deem conta de que o tabloide pegava pesado com todas as religiões, governos e seguimentos da sociedade que eles considerassem privadores dos direitos alheios.
O Charlie Hebdo não aliviava pra ninguém. E pra se ter uma ideia superficial de sua linha editorial, segue abaixo algumas capas de seus jornais:
Nesta capa, o cartunista e uma representação do que seria o profeta Maomé se beijam calorosamente sob a legenda que diz: "O amor é mais forte do que o ódio". O que para os muçulmanos é uma afronta imensurável.

Já nesta capa de julho de 2013, um muçulmano é alvejado numa imagem que trás a declaração: "O Corão é uma merda"; e o aviso: "ele não para balas".

Nesta, de maio de 2012, o alvo é o então papa Bento XVI, e a legenda: "Uma toupeira no Vaticano".

Talvez, no que seria a mais ousada de suas capas, esta de novembro de 2012 ironizava a Santíssima Trindade, e abordava como tema central o casamento gay.

Diante de tal conteúdo, insisto, sem qualquer pretensão de tentar justificar a selvageria praticada pelos extremistas no atentado em questão, fica claro que o que os responsáveis pelo conteúdo veiculado pelo Charlie Hebdo trata como "liberdade de expressão" pode perfeitamente, também, ser taxado como expressão esdrúxula, desrespeitosa, imoral e terrivelmente mal educada, de muito mau gosto.
Sem dúvida, faziam e continuarão fazendo uso de sua liberdade para continuarem ofendendo ao que, na visão deles, expresse seus sensos contraditórios.
Como cristãos, temos a Bíblia como regra de fé e prática e, bem diferente dos islâmicos que respondem à bala tais ofensas, buscamos imitar nosso Mestre, que sendo zombado quando dependurado na cruz, em meio a sofrimentos, dores e humilhações terríveis, intercedia junto ao Pai do Céu em favor de seus próprios algozes: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem"! (Lucas 23:34).
De certa forma, sem querer fazer comparações, o conteúdo jornalístico do Charlie Hebdo pode ser considerado como uma forma de atentado. Atentando à fé alheia, à crença de famílias inteiras pelo mundo a fora, à família por assim dizer, e ao próprio Deus.
A reação dos extremistas islâmicos é reprovável. Uma selvageria mesmo. Algo a ser repudiado pelos séculos.
Mas os diretores, redatores, cartunistas e todos os responsáveis pelo que esse tabloide publica, certamente, podem ter sido vítimas deles mesmos, encontrando uma paga ingrata pelo ódio que, de certa forma, se empenharam por propagar.
Sua forma, por exemplo, de defender o casamento gay, não precisava, de modo algum, expor a tamanho ridículo a Divindade como a fizeram.
Talvez, o texto a baixo explique um pouco do que possa ter acontecido:

Romanos 1:
28 E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, 
29 cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, 
30 caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, 
31 insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. 
32 Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem. 

Ironicamente, "profeticamente", sabe-se lá o que, chame como quiser, Charb havia acabado de publicar no último número da Charlie Hebdo, um desenho tristemente premonitório.
No desenho há a frase "Ainda não houve atentados na França", mas um extremista com uma metralhadora interrompe dizendo: "Espere! Temos até o final de janeiro para fazer nossos votos"... confira a imagem:





- Para ver mais capas de edições do Charlie Hebdo http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/31703-capas-do-charlie-hebdo