quarta-feira, dezembro 03, 2008

RESTITUIÇÃO

Comum do linguajar gospel nos dias atuais o termo “Restituição” tem feito parte do palavreado dos crentes como uma espécie de oração da vez.
E canta-se: “restitui, eu quero de volta o que é meu” ou; de modo mais radical, e por que não dizer violento: “eu fui no terreno do inimigo é tomei tudo que me roubou”...
E ora-se: “Senhor, restitua tudo quanto o inimigo me tem tomado!!!”, e etc... etc... etc...
Interessante é que, oriunda da popularmente chamada Teologia da Prosperidade (embasada em 100% nos textos veterotestamentários), a agora “doutrina” da restituição, acaba se colocando contra um exemplo de abnegação, humildade, mansidão e confiança na providência divina e muita disposição para o trabalho árduo que em muito condena esse tal clamor por restituições, que faz com que os fiéis clamem a Deus pela devolução de tudo quanto eventualmente tenham perdido (ou deixado de ganhar), ou lhes façam dirigir-se até ao próprio diabo, afim de que lhe arranquem das mãos tudo quanto pertença ao crente.


No texto de Gênesis 26:12-25, lemos os relatos bíblicos sobre o período de permanência do patriarca Isaque na terra de Gerar, por determinação de Deus, a fim de que lhe fizesse prosperar mesmo em meio aos pagãos e em época de fome geral (v. 12). As condições da época, e a presença dele habitando entre incrédulos não lhe impediram de enriquecer ali (v. 13), no que também, suscitou a inveja, daí a oposição por parte dos moradores da terra que, malignamente, trataram de colocar impedimentos para que o homem de Deus continuasse a prosperar.
Imediatamente, tiraram de Isaque seu acesso à água, matéria preciosa sem a qual não produzimos nada, entulhando-lhe os poços que usava, e que haviam sido cavados por seu pai, Abraão, quando por ali também habitou (v. 15). Expulso pelo rei pagão, foi procurar local para continuar habitando, em paz (vv. 16,17).


Humildemente, Isaque vai reabrir os poços anteriormente também cavados por seu pai, no novo local que arranjou para se instalar (vv. 18,19). Malignamente, os moradores locais contendem com Isaque por causa do poço (v. 20), pelo que Isaque, ainda movido pela mesma humildade e mansidão que lhe marcaram a vida, vai cavar outro poço (v. 21), sobre o qual, os malignos moradores da terra contenderam novamente (v. 21), fazendo com que Isaque, partindo também dali, fosse cavar outro poço (não perca as contas, já é no mínimo a 3ª seqüência de poços), tendo visto cessada a contenda, pelo que, certamente em virtude de tamanha manifestação de mansidão e humildade, recebe a visita do Senhor (v. 24), motivo pelo qual, levanta um altar a Deus, ali mesmo, continuando em sua pacífica e próspera abertura de poços (v. 25).
É legal ver que Isaque, integralmente assistido por Deus, no qual não perdia sua fé, realmente era restituído de tudo quanto lhe era tirado. Todavia, não sem que houvesse muito empenho de sua parte, a saber:


· Ele não contendeu com seus opositores, nem mesmo nos termos que lhes fizesse ter passado na cara a preguiça que tinham de providenciar a abertura de seus próprios poços, além da ousadia que tinham em entulhar alguns dos que Isaque abrira. Nisso, lições de humildade e de mansidão tremendas foram dadas e estão aí para a eternidade, já que Isaque não lhes foi hostil;


· Nas “restituições” dos poços que Isaque experimentou ele não foi isentado da necessidade de colocar a mão na massa no sentido de, sempre que chegava ao novo local, ter de cavar novos poços (ou limpar os antigos) para que tivesse acesso à tão preciosa e indispensável água;


· E, principalmente, uma vez que ali ele se encontrava por determinação de Deus, não vimos no relato bíblico nenhuma oração de Isaque a Deus no sentido de pedir que os homens parassem de lhe expulsar, ou de entulhar seus poços ou de que, em chegando a algum lugar, encontrasse água saindo de alguma rocha ou, em algum poço aberto por algum anjo ou coisa parecida.


Que lições tiramos disso, se considerarmos os apelos por restituição de nossos dias?


Vamos lá. Se no lugar de Isaque tivéssemos grande número de crentes (evangélicos) de nossos dias, certamente, o relato bíblico traria uma oração nesses termos:


“Oh Senhor... tu nos mandastes para este lugar. Cavamos esses poços com nossas próprias mãos. Da água que daqui temos tirado temos produzido muitas coisas, criado muitos rebanhos, dos quais, fielmente, temos lhe dado os dízimos de tudo. Agora, esses malignos filisteus vêm aqui e nos entulham os poços, ou nos querem expulsar da terra para onde o Senhor nos mandou. Então, Senhor, honra-me e luta por mim. Elimina o inimigo do meio de nós e não permita que nos sejam tomados o que conquistamos”.


Ou, no mínimo:


“Senhor. Já que tivemos de sair daquela terra para essa outra, faz um milagre e permita-nos encontrar água sem que precisemos cavar”.


E, o que seria mais comum:


“Oh meu Deus. Viemos para cá a mando do Senhor, e perdemos tudo o que tínhamos. O inimigo roubou o que era nosso. Agora, Senhor, restitui o que o inimigo nos tem tirado!”


Parece piada, ou uma tentativa de adivinhação de minha parte, mas o que aqui transcrevo o faço mediante o que vejo no dia a dia.
O que todos querem é ter restituído a si algo que, em algum momento da vida, por algum motivo lhe tenha sido tirado, inclusive eu, claro.
Todavia, sem “chamar os agentes do inimigo para a briga”, sem “colocar Deus contra a parede”, ou sem “reivindicarmos nossos direitos junto a Deus” ao que parece, não há muita gente disposta a se apossar de tal restituição.


No evento bíblico supracitado, não vemos Isaque participando de qualquer campanha de oração, nem de nenhuma corrente dos trezentos e lá vai pedra... nem de rosa ungida, nem de galho de arruda, nem de oração forte, nem sequer de qualquer oração. E, por que teria Isaque agido assim?
É evidente que Deus nos quer no mundo em meio a uma geração corrompida para que os influenciemos com bons testemunhos de vida, a fim de que conheçam ao Senhor. Algo de diferente tem de ser notado nos procedimentos do povo de Deus. Se Isaque tivesse partido para a briga com os filisteus, muito provavelmente, ele até teria vencido a batalha. Mas, agindo desse modo, ele em nada estaria demonstrando diferença entre os que servem e os que não servem a Deus. Prova disso é que ao perceberem os pagãos que Isaque era homem de Deus, trataram de fazer aliança com ele, exatamente por reconhecerem a soberania do Deus de Isaque, de modo que, digamos, em termos modernos, Isaque ganhou aqueles homens para o Senhor (vv. 26-31).
Temos de ressaltar, ainda, que escavar poços naquela região nunca foi osso mole de roer. Solo rochoso, sem ferramentas como as de hoje... Lendo o texto, até parece-nos moleza escavar ou limpar poços na região da Palestina, mas creiam, não é. Para piorar, depois do sofrimento da escavação, não havia qualquer garantia de que se chegaria à água. Piorando mais um pouco, ainda que se achasse a água, não haveria a garantia de que a água fosse boa para consumo. Logo, os pagãos tiveram de perceber que o Deus de Isaque não era qualquer Deus, e que Isaque era um homem diferente. Ora ora, esse homem não perdia o ânimo para escavar tantas vezes quantas fossem necessárias e, todo poço que o homem cavava dava em água, e água de boa qualidade, como o popular dito dos pescadores goianos, sobre que “para cada enxadada, uma minhoca”.


Conjecturando, que testemunho divino teria sido dado por Isaque se os seus opositores tivessem sido derrotados em batalhas? Que instrução de soberania de Deus lhes teria ficado latente? Como chamariam a Isaque a fim de se aliançarem com ele, mediante reconhecimento do poderio de seu Deus?
Assim, de agora por diante, pensemos mais de uma vez antes de empreendermos campanhas, batalhas e requisições de restituição quanto ao que, eventualmente, tenhamos perdido, quer tenha nos sido tirado pelo inimigo ou, até mesmo pela falta de disposição em “cavarmos novamente”, ou seja, em regaçarmos as mangas para correr atrás do que nos julgamos merecedores, sabendo que o Senhor é conosco, e que, primordialmente, é por meio de nós que Ele quer que sejamos conhecidos no mundo inteiro. Não por sermos tão bons de tiro quanto os muçulmanos; não por sermos tão bons de rituais religiosos quanto os feiticeiros; não por sermos chorosos, queixosos e clamantes ferrenhos a um Deus que nos dê o que pedimos sem a necessidade de que nos empenhemos duramente para conseguir.


Os homens precisam nos achar prósperos, porém, depois de sermos trabalhadores mansos, humildes, perseverantes e prontos a nos sentarmos, comermos e bebermos com eles, a fim de que nos aliançemos para que o nosso Deus seja exaltado e conhecido deles em todo o seu potencial, verificado por não fazer de nós pessoas que ajam exatamente da mesma maneira que qualquer pessoa do mundo agiria, mas por sermos pessoas que se portam no meio da comunidade em que vivemos de modo absolutamente estranho, porém, magnificamente santo. Então, antes de clamarmos a Deus pela restituição, sem esmorecer na fé, sem omitir a sujeição ao único Deus, com nossas próprias mãos, trabalhemos para construir novamente, sempre que necessário, tudo quanto, eventualmente, viermos a perder durante o curso de nossas vidas.

5 Comments:

At 7:09 PM, Blogger claudio pimenta said...

seria de grande valor enviar esse texto ao terra e sua turma

 
At 7:59 PM, Anonymous Anônimo said...

Isso é pq Isaque não era crente, nem conhecia o poder da determinação... :P

 
At 9:35 PM, Anonymous Anônimo said...

Muito interessante o exemplo de Isaque, talvez a partir do ponto de vista dessa passagem alguns consigam entender.

Esse pensamento de restituição demonstra falta de confiança em Deus, pois se exigi que as coisas aconteçam como a gente quer mesmo o Senhor dizendo que tudo(mesmo as percas) cooperam para o nosso bem.

www.robertosoares.com

 
At 11:23 PM, Anonymous Anônimo said...

Estamos vendo surgir uma geração de crentes grávidos. Com um imperador na barriga, nem mais um rei. Assenhoram-se de pseudo-fidalguias espirituais, com os anjos a serví-los e arrotando ordens ao Todo Poderoso. Deitam em berço esplêndido e vociferam alto: Senhor, manda o anjo...
Querem restituição, mas não fazem sua parte. Querem bençãos espirituais, mas não demonstram o fruto do Espírito.
Como diz um louvor antigo:
"Oh! Meu Deus me guarde, dos homens que virão, falando em seu nome, com uma nova pregação. Oh! Meu Deus me guarde, dos falsos profetas, com uma nova profecia..."

MARANATA, VEM SENHOR JESUS!

 
At 9:06 PM, Blogger Odirlei said...

Agora sim...

 

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