LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SEU PREÇO
- Em dias de um "evangelho" seco, sem sal e mais provocadores de males que de bem, aqui estamos para tentar temperar um pouco estes dias. - É bem provável que não se veja nestas páginas muitas lisonjas nem declarações que massageiem os egos e coloquem os homens em posição de destaque, e isso pode parecer desanimador. - Mas, exaltando a Deus, e diminuindo a nós, pretendemos trazer mensagens de encorajamento.
As recentes contendas entre irmãos, surgidas principalmente na CADB (Comunidade Assembleia de Deus no Brasil http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=371618) no Orkut, em virtude de uma análise da música “Faz um Milagre em Mim” (de Regis Danese) feita pelo Pr. Ciro Sanches Zibordi (http://cirozibordi.blogspot.com/2009/05/como-zaqueu-eu-quero-descer.html) têm me levado a reflexões que, inevitavelmente, me obrigaram a externar um parecer melhor elaborado a respeito dos fatos e ver, se possível, um pouco do incêndio ser apagado.
Comum do linguajar gospel nos dias atuais o termo “Restituição” tem feito parte do palavreado dos crentes como uma espécie de oração da vez.
E canta-se: “restitui, eu quero de volta o que é meu” ou; de modo mais radical, e por que não dizer violento: “eu fui no terreno do inimigo é tomei tudo que me roubou”...
E ora-se: “Senhor, restitua tudo quanto o inimigo me tem tomado!!!”, e etc... etc... etc...
Interessante é que, oriunda da popularmente chamada Teologia da Prosperidade (embasada em 100% nos textos veterotestamentários), a agora “doutrina” da restituição, acaba se colocando contra um exemplo de abnegação, humildade, mansidão e confiança na providência divina e muita disposição para o trabalho árduo que em muito condena esse tal clamor por restituições, que faz com que os fiéis clamem a Deus pela devolução de tudo quanto eventualmente tenham perdido (ou deixado de ganhar), ou lhes façam dirigir-se até ao próprio diabo, afim de que lhe arranquem das mãos tudo quanto pertença ao crente.
No texto de Gênesis 26:12-25, lemos os relatos bíblicos sobre o período de permanência do patriarca Isaque na terra de Gerar, por determinação de Deus, a fim de que lhe fizesse prosperar mesmo em meio aos pagãos e em época de fome geral (v. 12). As condições da época, e a presença dele habitando entre incrédulos não lhe impediram de enriquecer ali (v. 13), no que também, suscitou a inveja, daí a oposição por parte dos moradores da terra que, malignamente, trataram de colocar impedimentos para que o homem de Deus continuasse a prosperar.
Imediatamente, tiraram de Isaque seu acesso à água, matéria preciosa sem a qual não produzimos nada, entulhando-lhe os poços que usava, e que haviam sido cavados por seu pai, Abraão, quando por ali também habitou (v. 15). Expulso pelo rei pagão, foi procurar local para continuar habitando, em paz (vv. 16,17).
Humildemente, Isaque vai reabrir os poços anteriormente também cavados por seu pai, no novo local que arranjou para se instalar (vv. 18,19). Malignamente, os moradores locais contendem com Isaque por causa do poço (v. 20), pelo que Isaque, ainda movido pela mesma humildade e mansidão que lhe marcaram a vida, vai cavar outro poço (v. 21), sobre o qual, os malignos moradores da terra contenderam novamente (v. 21), fazendo com que Isaque, partindo também dali, fosse cavar outro poço (não perca as contas, já é no mínimo a 3ª seqüência de poços), tendo visto cessada a contenda, pelo que, certamente em virtude de tamanha manifestação de mansidão e humildade, recebe a visita do Senhor (v. 24), motivo pelo qual, levanta um altar a Deus, ali mesmo, continuando em sua pacífica e próspera abertura de poços (v. 25).
É legal ver que Isaque, integralmente assistido por Deus, no qual não perdia sua fé, realmente era restituído de tudo quanto lhe era tirado. Todavia, não sem que houvesse muito empenho de sua parte, a saber:
· Ele não contendeu com seus opositores, nem mesmo nos termos que lhes fizesse ter passado na cara a preguiça que tinham de providenciar a abertura de seus próprios poços, além da ousadia que tinham em entulhar alguns dos que Isaque abrira. Nisso, lições de humildade e de mansidão tremendas foram dadas e estão aí para a eternidade, já que Isaque não lhes foi hostil;
· Nas “restituições” dos poços que Isaque experimentou ele não foi isentado da necessidade de colocar a mão na massa no sentido de, sempre que chegava ao novo local, ter de cavar novos poços (ou limpar os antigos) para que tivesse acesso à tão preciosa e indispensável água;
· E, principalmente, uma vez que ali ele se encontrava por determinação de Deus, não vimos no relato bíblico nenhuma oração de Isaque a Deus no sentido de pedir que os homens parassem de lhe expulsar, ou de entulhar seus poços ou de que, em chegando a algum lugar, encontrasse água saindo de alguma rocha ou, em algum poço aberto por algum anjo ou coisa parecida.
Que lições tiramos disso, se considerarmos os apelos por restituição de nossos dias?
Vamos lá. Se no lugar de Isaque tivéssemos grande número de crentes (evangélicos) de nossos dias, certamente, o relato bíblico traria uma oração nesses termos:
“Oh Senhor... tu nos mandastes para este lugar. Cavamos esses poços com nossas próprias mãos. Da água que daqui temos tirado temos produzido muitas coisas, criado muitos rebanhos, dos quais, fielmente, temos lhe dado os dízimos de tudo. Agora, esses malignos filisteus vêm aqui e nos entulham os poços, ou nos querem expulsar da terra para onde o Senhor nos mandou. Então, Senhor, honra-me e luta por mim. Elimina o inimigo do meio de nós e não permita que nos sejam tomados o que conquistamos”.
Ou, no mínimo:
“Senhor. Já que tivemos de sair daquela terra para essa outra, faz um milagre e permita-nos encontrar água sem que precisemos cavar”.
E, o que seria mais comum:
“Oh meu Deus. Viemos para cá a mando do Senhor, e perdemos tudo o que tínhamos. O inimigo roubou o que era nosso. Agora, Senhor, restitui o que o inimigo nos tem tirado!”
Parece piada, ou uma tentativa de adivinhação de minha parte, mas o que aqui transcrevo o faço mediante o que vejo no dia a dia.
O que todos querem é ter restituído a si algo que, em algum momento da vida, por algum motivo lhe tenha sido tirado, inclusive eu, claro.
Todavia, sem “chamar os agentes do inimigo para a briga”, sem “colocar Deus contra a parede”, ou sem “reivindicarmos nossos direitos junto a Deus” ao que parece, não há muita gente disposta a se apossar de tal restituição.
No evento bíblico supracitado, não vemos Isaque participando de qualquer campanha de oração, nem de nenhuma corrente dos trezentos e lá vai pedra... nem de rosa ungida, nem de galho de arruda, nem de oração forte, nem sequer de qualquer oração. E, por que teria Isaque agido assim?
É evidente que Deus nos quer no mundo em meio a uma geração corrompida para que os influenciemos com bons testemunhos de vida, a fim de que conheçam ao Senhor. Algo de diferente tem de ser notado nos procedimentos do povo de Deus. Se Isaque tivesse partido para a briga com os filisteus, muito provavelmente, ele até teria vencido a batalha. Mas, agindo desse modo, ele em nada estaria demonstrando diferença entre os que servem e os que não servem a Deus. Prova disso é que ao perceberem os pagãos que Isaque era homem de Deus, trataram de fazer aliança com ele, exatamente por reconhecerem a soberania do Deus de Isaque, de modo que, digamos, em termos modernos, Isaque ganhou aqueles homens para o Senhor (vv. 26-31).
Temos de ressaltar, ainda, que escavar poços naquela região nunca foi osso mole de roer. Solo rochoso, sem ferramentas como as de hoje... Lendo o texto, até parece-nos moleza escavar ou limpar poços na região da Palestina, mas creiam, não é. Para piorar, depois do sofrimento da escavação, não havia qualquer garantia de que se chegaria à água. Piorando mais um pouco, ainda que se achasse a água, não haveria a garantia de que a água fosse boa para consumo. Logo, os pagãos tiveram de perceber que o Deus de Isaque não era qualquer Deus, e que Isaque era um homem diferente. Ora ora, esse homem não perdia o ânimo para escavar tantas vezes quantas fossem necessárias e, todo poço que o homem cavava dava em água, e água de boa qualidade, como o popular dito dos pescadores goianos, sobre que “para cada enxadada, uma minhoca”.
Conjecturando, que testemunho divino teria sido dado por Isaque se os seus opositores tivessem sido derrotados em batalhas? Que instrução de soberania de Deus lhes teria ficado latente? Como chamariam a Isaque a fim de se aliançarem com ele, mediante reconhecimento do poderio de seu Deus?
Assim, de agora por diante, pensemos mais de uma vez antes de empreendermos campanhas, batalhas e requisições de restituição quanto ao que, eventualmente, tenhamos perdido, quer tenha nos sido tirado pelo inimigo ou, até mesmo pela falta de disposição em “cavarmos novamente”, ou seja, em regaçarmos as mangas para correr atrás do que nos julgamos merecedores, sabendo que o Senhor é conosco, e que, primordialmente, é por meio de nós que Ele quer que sejamos conhecidos no mundo inteiro. Não por sermos tão bons de tiro quanto os muçulmanos; não por sermos tão bons de rituais religiosos quanto os feiticeiros; não por sermos chorosos, queixosos e clamantes ferrenhos a um Deus que nos dê o que pedimos sem a necessidade de que nos empenhemos duramente para conseguir.
Os homens precisam nos achar prósperos, porém, depois de sermos trabalhadores mansos, humildes, perseverantes e prontos a nos sentarmos, comermos e bebermos com eles, a fim de que nos aliançemos para que o nosso Deus seja exaltado e conhecido deles em todo o seu potencial, verificado por não fazer de nós pessoas que ajam exatamente da mesma maneira que qualquer pessoa do mundo agiria, mas por sermos pessoas que se portam no meio da comunidade em que vivemos de modo absolutamente estranho, porém, magnificamente santo. Então, antes de clamarmos a Deus pela restituição, sem esmorecer na fé, sem omitir a sujeição ao único Deus, com nossas próprias mãos, trabalhemos para construir novamente, sempre que necessário, tudo quanto, eventualmente, viermos a perder durante o curso de nossas vidas.
- Dízimos... ironicamente, é sugerida sua pronúncia pelos irmãos até no momento de posar para fotografias, uma vez que tal pronúncia, inevitavelmente, arranca um "largo" sorriso do potencial modelo fotográfico.
- Mas, ironia à parte, falemos sério. Em meio às dezenas de abordagens mensais que me são feitas, a fim de que me "arranquem" uma definição a esse respeito, destaco a indagação mais comum: -"Dízimo é bíblico ou não é?".
- Muito bem. Temos de, então, concordar que bíblico ele é. Porém, a forma que ele é “cobrado”, pregado e administrado, não.
- Temendo muito o embate por parte dos religiosos, os crentes, que ainda priorizam o texto bíblico e suas determinações, não via textos isolados, mas, segundo um contexto amplo e abrangente, que leva em consideração a Bíblia de Gênesis a Apocalipse, têm se empenhado para informar à Igreja que, atualmente, a “apelação” em que se constituíram os métodos para levar o povo a contribuir com a “obra” são antibíblicos e desonestos.
- São antibíblicos porque consideram isoladamente textos que não têm a menor possibilidade de aplicação para a Igreja, tais como os “gafanhotos” do livro do profeta Joel, bem como as exortações do profeta Malaquias para lembrar ao povo judeu sobre a responsabilidade que tinham para com o Templo de Jerusalém e o sustento da Tribo de Levi que, para cuidarem exclusivamente do culto, não receberam herança como terras, lavouras ou rebanhos, tendo de ser mantida por seus irmãos (Dt 10:8-9) que são as outras 11 tribos. Tal exortação se deu pelo fato de os judeus retornados há vários anos da Babilônia, agora ricos, na reconstrução da cidade santa, priorizavam seus negócios, suas casas, fazendas e, negligenciavam a manutenção do Templo e o sustento dos Levitas. Enquanto moravam em “palácios”, se quer se compadeciam de seus irmãos em necessidade ou do Templo caindo aos pedaços. Por isso, foram comparados a ladrões, visto saberem das determinações do Senhor nesse sentido e, irresponsavelmente, abandonarem os irmãos sobre os quais Deus os havia constituído materialmente responsáveis.
- São desonestos porque, o líder cristão, inevitavelmente, precisa ser capacitado quanto à Palavra de Deus para guiar adequadamente o rebanho que Deus lhe confiou às mãos. Quanto à essa desonestidade, enumeramos algumas instâncias, a saber:
Os que pregam por ignorância: grupo constituído pela grande maioria de nossos pregadores, movidos por uma religiosidade doentia e uma tradição praticamente inquebrável. Pregam assim porque assim receberam há anos. “Sempre foi assim, por que mudar agora?”; perguntam eles. São pessoas incapazes de mudar seus conceitos, crendo mais no que tradicionalmente sempre se pregou do que em qualquer interpretação bíblica mais adequada.
Os que pregam por conveniência: às vezes eles até têm conhecimento quanto às determinações bíblicas, mas, como “todo mundo” prega e a situação financeira atual pede um “sacrifício” em especial... então, usa-se a máxima de chamar de ladrão o que não dizima ou, de levá-lo à crença de que, não contribuindo, os tais gafanhotos irão “devorá-lo” ou “mordê-lo”, ou coisa parecida. É uma espécie de apelação à sensibilidade...
Os que são “ladrões” mesmo: conhecem as Escrituras, sabem quais as determinações neotestamentárias a esse respeito, mas, em virtude da paixão que têm pelo dinheiro, uma vez que “todo mundo” cobra assim, para manter suas vidas de abastança, arrancam do povo, tudo quanto for possível, sob ministrações da “palavra de Deus” adequadamente elaboradas, inculcando-lhe um temor doentio e levando-o a contribuir “na marra”, com míseros 10%, inicialmente, e com outras quantias mais sob as várias nomenclaturas atuais do tipo, primícias, oferta missionária, campanha sabe-se lá de quê, etc.
- Para os menos avisados, e devidamente cegados pelas pregações deturpadas da Palavra de Deus, ou seja, pessoas que seguem cegamente a doutrinas de homens, incapazes de mergulharem nos textos bíblicos para obterem uma adequada interpretação deles, bem como, dão ouvidos exclusivamente às vozes de pregadores meramente incapazes ou devidamente desonestos, segue-se que, as determinações bíblicas para a Igreja no tocante às contribuições, levam em conta, prioritariamente, o fato de que, na Nova Aliança, ou seja, nesse período da Graça, a determinação de Cristo não mais limita as contribuições aos mesquinhos 10% do período da Lei. Ao contrário, agora, o Senhor espera que nós entreguemos à Sua Obra não 10, mas, 100%. E não 100% dos salários, mas sim, 100% de nossas vidas.
- Agora, convenhamos, um elemento que não aproveita essa “promoção” dos 10%, e não tem condições de entregar 10% de seu salário, certamente, não entregará 100% de sua vida nunca.
- Concluindo. Cientes de que nesse mundo, principalmente na época em que vivemos, é impossível que uma instituição se mantenha às custas meramente dos milagres e da boa fé, principalmente as Igrejas, necessitam das contribuições de seus membros para sobreviver. Todavia, essas contribuições só terão alguma valia espiritual para o contribuinte se for feita voluntariamente, de coração, com alegria (conf. 2ª Co 9:7). E, como uma “ducha gelada” nas cabeças dos mais religiosos, lamento informar que, essa entrega sob a possibilidade de sanções, caso a entrega não seja feita, ou dando o que lhe está realmente sobrando, espiritualmente, não tem o menor valor. Prova disso, leia a Carta de Paulo aos Filipenses, para que se tenha uma boa idéia do que vem a ser a contribuição voluntária, de coração, por amor, não dando o que se tem em sobra, antes, repartindo com os que nada têm o pouquinho que temos, de modo que tanto uns, quanto os outros, tenham nessa vida o mínimo possível para sobreviver dignamente.
- Quanto às distribuições do que a Igreja tem arrecadado, malignamente, tem-se praticado um farisaísmo sem precedentes, fazendo com que, em congregações freqüentadas por centenas de pessoas, uma só, ou no máximo umas duas ou três, usufrua o que a Igreja possui, ao passo que dentre os fiéis, encontram-se os mais absurdos exemplos de pessoas passando palas mais diversas privações, enquanto a instituição, como um todo, negligencia as ações de interesse social e comunitário, às missões evangelísticas e a demais obrigações que a Igreja enquanto um corpo necessariamente deveria participar.
- Assim, pelo amor de Deus, instrua-se: - “Não contribua na Igreja por motivo de sobra, nem por necessidade (de bênção futura), nem por constrangimento e, muito menos por medo. Antes, faça-o por amor, voluntariamente, antes mesmo que lhe seja pedido”.