quinta-feira, janeiro 25, 2007

Velhos Pastores, Novos Fariseus

"Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas
como ovelhas que não têm pastor."

Mateus 9:36

Será que nos dias de Jesus não haviam pastores em Israel? O que havia naqueles dias que deixavam as pessoas "aflitas" e "exaustas"?

- Muito bem. Primeiro vamos fazer uso de uma linguagem meramente rural, caipira mesmo, para que possamos entender o que se passa com um rebanho de ovelhas (animais) que não tenha um pastor cuidando dele.
- O animal, como qualquer ser vivo, tende a procurar o que mais lhe agrada imediatamente. No caso das ovelhas essa busca se concentra em um bom pasto, não importando de onde venha o capinzinho verdinho ou quem seja exatamente o proprietário da pastagem; se houver a necessidade de se "pular" uma cerca para que se chegue a ele... sem problema, uma vez que "saltar" e "desrespeitar" limites é uma especialidade dos ovinos (ovelhas). Uma agüinha fria também é bem vinda, independente da fonte de origem dela. Quanto à reprodução... é um caso sério; o pastor deve tomar sempre o cuidado de não permitir a cruza entre animais parentes, pai com filha, filho com mãe, irmão com irmã, para evitar a consangüinidade que resulta em crias doentes, fracas e degeneradas; ou entre raças diferentes, que resulta em crias mestiças e sem valor para o "DONO". Uma vez tomados esses cuidados o "DONO" do rebanho sempre terá à sua disposição uma lã de excelente qualidade, um leite bem forte e sadio e, o constante crescimento saudável do rebanho afim de que lhe seja possível fazer o devido uso de suas ovelhas, colhendo alguma sempre que ele assim julgar necessário e observando que, ainda assim, o rebanho continuará crescendo cada vez mais e a qualidade das crias será cada vez melhor.
- Os problemas inerentes a essa criação dizem respeito a, basicamente, o fato de que a ovelha sabe do que ela necessita, porém, não sabe das conseqüências que as escolhas mal feitas podem lhe acarretar na busca pelas coisas que mais lhe agrada. Iludida pela possibilidade de um pasto saboroso e bem a seu alcance, ignora os perigos de transpor os limites pré-estabelecidos, salta a cerca saindo do ambiente em que deveria permanecer e se expõe aos perigos comuns a quem anda por um território que não é o seu ambiente próprio. Sedenta por água fresca, no afã de saciar rapidamente sua sede, ignora a presença dos predadores (onças, lobos, ladrões) que também vivem rodeando as fontes de água por saberem que a ovelha sempre as procurará e poderá ser facilmente capturada. Mais atenta aos apelos físicos no que tange aos desejos sexuais, voltam a "pular a cerca" atrás do par que não lhe é conveniente, expondo-se mais uma vez aos perigos inerentes à peregrinação por terra estranha ou, assumindo os riscos de se obter como resultados a geração de filhos indesejáveis e doentes que poderá comprometer a saúde de todo o rebanho.
- Então, pelo menos em se tratando de coisas relacionadas à pecuária, o papel do pastor de ovelhas define-se exatamente pela obrigação de não deixar que falte a comida e a bebida ao rebanho, sendo que, pelo emprego dos métodos que lhe são peculiares, tipo vara, cajado e cercas mais bem edificadas o pastor, invariavelmente, não poderá permitir que suas ovelhas "pastem por outras terras", nem comam ou bebam daquilo que não lhes fará bem. Também, o pastor realiza um cuidadoso controle que visa não permitir que suas ovelhas se relacionem com animais de outros rebanhos, tanto para evitar a contaminação por doenças que possam haver fora do aprisco bem tratado, quanto para evitar o cruzamento entre os animais que culminariam na produção de ovelhas fracas ou doentes, não permitindo ainda, que dentro do próprio rebanho a reprodução se dê de forma irresponsável e aleatória.
- O que se conclui após toda essa exposição, que pode ser estranha a pessoas de vida essencialmente urbana, mas, que é extremamente corriqueira para as pessoas mais humildes dentro de um contexto rural é que, inevitavelmente, a responsabilidade pela segurança, saúde e boa produtividade de qualquer rebanho é todinha do pastor. E nem se quer a possibilidade de se colocar a culpa na ovelha é viável, por mais "saltadeira de cerca" e esfomeada ela possa ser.
- Daí, deixando os animais de lado e falando agora de gente, analisando o texto de Mateus 9:36 (a cima), inevitavelmente traçamos um paralelo entre os dias de Jesus e os dias atuais e verificamos que, tal qual estava a população de Israel no século I estamos nós nos dias de hoje, vinte séculos depois. Pastores em Israel no século I era o que não faltava (mestres da Lei, escribas, sacerdotes, etc), tendo todos a incumbência de cuidar do rebanho de Deus, mas que, todavia, haviam passado a dar mais valor aos lugares, às datas, aos costumes, às instituições (Templo, Sinagogas) e até aos objetos do que às próprias pessoas.
- Como disse, vinte séculos se passaram, desapareceram os mestres da Lei, os escribas, os sacerdotes (com o mesmo ofício da época), o Templo, as sinagogas (com os mesmos sentidos) e surgiram as "igrejas" (propositalmente com "i" minúsculo) e os "apóstolos", os bispos, presbíteros, reverendos, diáconos, pastores e etc., que deveriam se valer dos exemplos dos religiosos das práticas reprovadas por Jesus naqueles dias e agirem de modo diferente mas, que lamentavelmente, acabaram por trilhar pelas mesmas veredas desastrosas que privilegiam os lugares, as datas, os costumes, as instituições, os objetos e outras coisas mais relegando, mais uma vez, as pessoas aos últimos planos, tornando-as praticamente sem importância alguma, sendo infinitamente menos valorizadas do que um determinado decreto estabelecido por alguma "autoridade", aleatoriamente, de acordo com a vontade dele e, para piorar, semelhantemente aos judeus do primeiro século, alegando ser em nome de Deus.
- É maravilhoso ver o quanto Jesus contrariou os religiosos daqueles dias. Sentou-se com os publicanos e pecadores; dialogou com uma mulher, estrangeira e adepta da fornicação, que era a samaritana de João 4; realizou obras aos sábados; purificou o Templo expulsando os comerciantes da fé; absolveu a adúltera que, condenada pala Lei, deveria ser executada; menosprezou a aparência exterior das coisas, tipo o exterior do copo sujo por dentro, das mãos lavadas antes das refeições, dos belos sepulcros; esteve nas casas dos publicanos, como no caso de Zaqueu; também nas casas dos religiosos, como no caso do fariseu Simão; e, para completar, afirmou que todo o que fosse a Ele de maneira alguma seria jogado fora. Muitas outras coisas nosso Mestre maior fez, para que nos servisse de exemplo, já que Ele sempre quis que fizéssemos tudo tal qual nos havia ordenado que fosse feito (Mt 28:20).
- Postas estas coisas pergunta-se novamente: "Por que estavam aflitas e exaustas as multidões daqueles dias?" Pois bem, fazendo o devido uso da ilustração que o próprio Jesus deu, ou seja, a de que elas pareciam ovelhas sem pastor e, vendo quantas das práticas daqueles religiosos foram reprovadas pelo Senhor, conclui-se que os pastores daqueles dias estavam deixando de fazer o que Deus lhes havia determinado que fizessem e, estavam fazendo tudo quanto Deus não lhes havia mandado fazer, principalmente em Seu Nome. As aflições diziam respeito às dificuldades de se cumprir com tudo quanto a religião lhes impunha, ao serem guiados por cegos, a verem a hipocrisia corrente sem que fosse possível externar qualquer manifestação contrária sob a pena de serem condenados à morte. A exaustão dizia respeito à impossibilidade de carregar os fardos pesados que lhes eram colocados sobre os ombros, fardos esses que os próprios religiosos não se dispunham a levantar (é preciso que se Leia Mateus 23).
- E hoje, o que temos visto? Tal qual as séries de filmes do Homem Aranha ou do Super Homem, que renovaram os atores e os cenários para que fossem recontadas histórias já bem antigas, vivemos em um Israel da era digital (a Igreja) que não tem mais fariseus nem saduceus ou mestres da Lei e escribas mas, onde volta-se a viver a mesma história de 2000 anos atrás. É muito comum ouvirmos de pastores empolgados a frase: "se Jesus viesse à terra em carne novamente, tal qual veio, Ele seria crucificado de novo!". Apesar de bem chula, precisamos admitir que se trata de uma frase carregada de verdade.
- O que fariam a Jesus hoje quando Ele se sentasse com as prostitutas, ou ao lado dos gays, e demais pessoas de vidas promíscuas e atitudes reprováveis, ou tomasse uma refeição em meio aos políticos corruptos?
- O que fariam a Ele em uma igreja centenária se o Senhor chegasse e modificasse toda a liturgia do culto que desde séculos se pratica da mesma forma?
- O que fariam a Ele quando se batizasse uma senhora que não havia sido casada civilmente por um motivo qualquer?
- O que fariam a Ele quando todo e qualquer motivo de divórcio fosse desconsiderado, afim de que o perdão e a tolerância fossem priorizados?
- Por fim, o que os pastores fariam a Ele quando fossem, mais uma vez, convocados a darem mais valor às vidas humanas do que às coisas e instituições religiosas?
- De diferente entre os religiosos de hoje e os daquela época podemos citar o método de condenação e morte. Ou seja, enquanto naquela época as pessoas eram degoladas, apedrejadas ou crucificadas após um julgamento rápido e prático, hoje, quando alguém se levanta contra a desonesta forma de instituir as “leis” de contribuições (dízimos) ou do ensino deturpado da Palavra de Deus, os fariseus modernos julgam, expõem, condenam e vão executando, matando as ovelhas aos poucos, fazendo o devido uso das massas devidamente manipuladas pela “ministração do pânico” que lhes foi imputada, fazendo com que as ovelhas temam assustadoramente rebater as palavras dos “homens de Deus” sob a pena de serem amaldiçoadas e sofrerem as mais horrendas conseqüências. Algumas das ameaças mais desonestas, macabras e, por que não dizer satânicas, são as seguintes:
· Se você não entrega o seu dízimo de uma forma (na igreja) acabará por entregá-lo de outra, na oficina, na farmácia, no hospital...
· Deus não pode te abençoar porque Ele não pode ser contrário à sua Palavra. Logo, se você não entrega o dízimo você não será abençoado...
· Jamais conteste a palavra do pastor, sob a pena de sofrer o que Arão e Mirian sofreram ao contestar as atitudes de Moisés...
· Não ousem levantar-se contra “um ungido” do Senhor, pois Davi disse que isso atrairia maldições para sua vida...
- Existem muitos outros bordões com esse mesmo teor e propósitos, mas deixemo-los de lado. Voltemos, então, ao foco que é a aflição e o cansaço das ovelhas.
- Como não estariam aflitas as ovelhas, já que não são tolas? Que facilmente têm percebido nas atitudes dos pastores a arrogância bem como a hipocrisia com que pregam e vivem suas vidas?
- Como não viver cansadas as ovelhas que andam distâncias enormes e não encontram pastos? Que não são pastoreadas no sentido de comerem e beberem o que é puro e sadio? Nem de se relacionarem adequadamente com as demais ovelhas como sempre foi o mandamento de Deus, ou seja, priorizando o amor uns aos outros antes da religiosidade que não trás benefícios a ninguém?
- Por isso Jesus disse que elas estavam “como” ovelhas que não tinham pastor. Na verdade elas tinham. Porém, o fato de os ter era ainda pior do que se não os tivesse, uma vez que a intenção deles para com o rebanho era tão somente a de desfrutar de sua lã, de seu leite, de suas crias e de suas carnes, sem darem absolutamente nada em troca. Por esse motivo, em João 10, o Senhor chama esses pastores de “ladrões” e “mercenários”, porque só cuidam do rebanho de Deus interessados nos benefícios que esse ofício possa lhes proporcionar, sem nenhuma intenção de dar a vida em prol das ovelhas tal qual o Senhor lhes instruiu que fizessem.
- Então, para os que não têm mente nem espírito fraco, fica aí o apelo para que haja uma maior reflexão tanto com relação ao texto bíblico quanto aos acontecimentos históricos que, inevitavelmente, se repetem ano após ano, século após século, trazendo sempre, para os mais desavisados, a impressão de que cada situação contemporânea é algo essencialmente novo. Para os pastores realmente crentes e honestos (sim, porque eles ainda existem), o fato de serem feitos constantes avisos ao rebanho, de que tais perigos existem e sempre existiram, constitui-se numa obrigação.
- Fugir da falsa religiosidade que sempre existiu no meio do povo de Deus é marcha que, também, deve ser encabeçada por aqueles que se colocaram à frente dos rebanhos, sempre cuidando deles adequadamente para que a aflição e o cansaço seja melhor administrado, no sentido de que o amor venha a ser o item de maior e primordial importância para que o ser humano venha a ser valorizado, uma vez que Jesus deu a sua vida na Cruz por causa das pessoas, e não das instituições, dos lugares, dos costumes, das leis ou dos objetos.
- Que não hajam pastores escandalizados com as palavras desse texto a ponto de continuarem valorizando mais as coisas do que as pessoas. E, para vocês mesmos, amados pastores atuais, exerçam adequadamente suas funções a fim de que sejam diminuídas as aflições e o cansaço nessa nossa marcha pelo Deserto dessa vida que precisamos atravessar como Igreja Gloriosa para que seja, finalmente, alcançada a Canaã Celestial, onde enfim descansaremos eternamente ao lado do nosso Supremo Pastor.

Não deixem de ler o capítulo 23 do Evangelho de Mateus.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Origem do Casamento Civil

- O ano era 1854 e a cidade era a de Recife, hoje a capital do estado de Pernambuco.
- Com a vinda de grande número de ingleses, holandeses e outras comunidades de europeus para o Brasil, cresceu por demais o número de Protestantes por aqui. Ora o Brasil ainda era uma nação oficialmente católica, motivo pelo qual até mesmo uma proibição para que houvessem cruzes e sinos nas igrejas protestantes fora providenciada desde os tempos do imperados D. João VI.
- Pois bem. Esses jovens filhos dos Protestantes ou tinham o casamento negado pelos padres católicos ou não se submetiam a receber o batismo romano nem tão pouco a praticar toda a idolatria peculiar àquela igreja e, portanto, viam-se em tremenda dificuldade para oficializarem suas uniões, ja que as igrejas protestantes eram desconsideradas como instituição com autoridade para tal, sendo que, reuniões "às escondidas" eram comuns para que se celebrassem os casamentos entre os crentes por aqui.
- Nessa época, em uma manhã de domingo, um pastor metodista mais encorajado do que os demais, resolveu celebrar um casamento com portas abertas. Na platéia havia um delegado de polícia que, sabe-se lá o que fazia por ali, algemou o pastor e o levou preso em flagrante sob a acusação de "exercício ilegal de profissão", já que os pastores não tinham autoridade para isso.
- O que se seguiu daí foi um tal de gente gritando na porta da delegacia até que fosse solto o pastor. Tal ato chamou a atenção das autoridades para que uma providência fosse tomada no sentido de se evitar conflitos semelhantes. Também, acabou por encorajar outros pastores a fazerem o mesmo que aquele metodista havia feito.
- Provisoriamente o que se fez foi uma autorização civil, para que os casais pudessem, então, regulamentarem suas situações para então, segundo a fé que tivessem, se dirigissem ao sacerdote de suas preferências para, então, receberem a bênção correspondente àquela união que a justiça passou a considerar válida.
- Note-se que por todo o mundo não havia casamento civil. Os interessados, fossem eles católicos ou Protestantes, reunião suas famílias e tinham suas uniões celebradas pelos sacerdotes, o que era considerado mais que suficiente para validar a união dos casais.
- Na 1ª Constituição Federal, em 1889, quando da Proclamação da Rapública, é que se criou em definitivo o que hoje conhecemos como casamento civil, mais tarde como união civil, hoje dispensada para casais que vivam juntos já a algum tempo sob a forma de concubinato e, lamentavelmente, extendida aos "casais" de homossexuais, que irremediavelmente, reclamam ter esse direito uma vez que a Constituição considera absolutamente iguais todas as pessoas e lhes assegura os mesmos direitos.
- Com o passar dos tempos, pela falta de conhecimento histórico relacionado à questão, a autorização civil passou a ter mais valor do que a antiga bênção espiritual.
- É importante lembrar que desvalorizar totalmente a bênção pastoral, substituindo-a pela autorização civil, pode levar à afirmação de que todos os casamentos até o final do século XIX eram relações conjugais ilícitas. E essa afirmação seria um absurdo completo.
- No fim, o que se vê é um total desprezo pela bênção de um homem de Deus que viu um casal nascer, crescer, os batizou e, agora, os vê ser mais "abençoados" por um tabelião que jamais os viu nem verá novamente.
- Simplesmente lamentável.