segunda-feira, abril 12, 2010

Voando Para Pregar o Evangelho

    Será que dá mesmo certo esse negócio???- No último sábado (10/04), assistindo àquela pregação "divertida" dos pastores da Igreja Voz da Verdade, enfim, terminei por ver da parte deles algo deveras reprovável.
- O Pr. Carlos Alberto Moyses criticava abertamente aqueles que, por sua vez, criticavam o Malafaia em virtude da aquisição do tal avião. É claro que não estou aqui pretendendo minar o direito do pastor do vozeirão lindíssimo pela exteriorização de sua opinião a esse respeito, longe disso. Todavia, ele completou sua fala com um comentário que passou a merecer maior apreço de minha parte, quando disse: "... criticar o pastor porque ele comprou um avião?!?!? Isso é algo necessário nesses dias. Imaginem se Jesus, hoje, ainda estaria andando de jumento?!?!? Ser contra tal atitude do pastor é manifestação de um espírito de miséria!".
- Pois bem, vamos lá.
- O equívoco do amado Pr. Carlos Moyses nasce, sobretudo, de um total desconhecimento da geografia, da cultura e das condições de vida nos dias de Jesus lá pela região do Oriente Médio. Ora ora, se Jesus pretendesse, haveria à sua disposição tanto jumentos, quanto cavalos, carros (movidos a tração animal) e as famosas carruagens. Até os escravos de "celebridades" dispunham de tais recursos, a exemplo do eunuco etíope, um pobre homem que teve seus balangandans dilacerados com o fim de servir a uma rainha.
- Não obstante haverem todos esses recursos a seu dispor para deslocamentos, o Mestre maior optou mesmo foi por andar a pé. E veja que Ele podia simplesmente se transladar de um lugar para outro como num "passe de mágica", se tão simplesmente quisesse.
- E isso tem motivo. Não foi à tôa não.
- Tudo quanto o Mestre fez só o fez para que nos servisse de exemplo, sendo Ele mesmo nosso Modelo a ser imitado e, em tudo.
- O que Jesus mais pretendeu durante seu ministério foi ser acessível. Até para atravessar um certo lago, dispensando os recursos navais já disponíveis à época, Ele optou por caminhar sobre a água.
- O Pr. Carlos, acompanhado de seu irmão que pregava uma exposição desastrosa de Eclesiastes 3, expondo absolutamente nada a ver com o texto sobre o qual tentava embasar sua mensagem, certamente agira de modo a manter sua política de "boa vizinhança" com o Malafaia, com quem divide palcos apesar da forte divergência teológica existente entre trinitarianos e o Unicismo defendido com certa veemência e "violência" pela Voz da Verdade. Até aí a gente entende. Preferências e conchavos deles à parte, já que ninguém tem nada a ver com isso, vamos a uma avaliação quanto às andanças de Jesus em seus dias e as dos homens da atualidade.
- Como dito a cima, Jesus tinha mais o que fazer além de simplesmente sair de um local e chegar em outro, de modo que, pelo caminho, e exatamente pelo caminho, é que Ele desenvolveu boa parte de seu ministério terreno.
- Foi passando à entrada de Jericó que um certo cego, aos berros, chamou a atenção do Senhor para que pudesse ser curado. Imaginemos o pobre cego trombando na buzanfa de um cavalo certamente rodeado de discípulos tentando chamar a atenção de Jesus...
- Numa passada dessas, a mulher do fluxo de sangue (ilustração a cima) conseguiu tocar na orla de seu manto. Teria ela sido curado se tivesse alcançado a ponta do rabo de um jumento???
- Teria Lázaro ficado mesmo por 4 dias no sepulcro, diminuindo a intensidade do milagre, se Jesus tivesse ido para Betânia de carruagem?
- O caso é que os que pretendem ser os "representantes de Cristo" (ministros, literalmente) nos dias atuais já não incorporam mais aos seus ministérios o contato físico com as potenciais pessoas totalmente dependentes de terem suas vozes ouvidas ou mesmo de tocarem neles dada à inacessibilidade dos santos, a exemplo do Papa, que se desloca em seu papamóvel com vidros à prova de balas exatamente para não ser incomodado por ninguém. Afinal, há pessoas más que pretendem matá-lo e, nem se pode imitar mesmo tudo o que Jesus fez... (Rm 6:5; Fp 3:10).
- Fico pensando no pobre Bartimeu, hoje, berrando para ser ouvido por um pastor a uns 8.000 metros de altitude e viajando a uma velocidade de uns 700 Km's por hora... Ou a mulher do fluxo de sangue se rastejando na pista de um aeroporto tentando passar a mão ao menos do trem de pouso do asa dura do pastorzão...
- Seria plenamente justificada a necessidade de se atender a vários lugares com o fim de se levar a mensagem do Evangelho da Salvação. Mas, será mesmo isso que tem sido levado aos Shows Gospels marcados pela presença de grupos e cantores de renome que não se movem se não for em troca de um cashê considerável?
- As meras palavras ditas conferem com a acessibilidade (ou a falta dela) para que os que anunciam a mensagem da Cruz estejam mesmo em contato com os que a ouvem?
- Não! Certamente que não.
- Jesus Cristo pode até ser visto como uma celebridade para nós, hoje, que já somos conhecedores da história. Mas, para os de seus dias Ele fora visto mesmo como um que não tinha formosura alguma e era desprezado por uns que para Ele olhavam meneando as cabeças (Is 53:2).
- Jesus poderia sim, amado Pr. Carlos, andar de jumento durante o exercício de seu ministério. Mas, nem isso Ele fez. Como visto, ele viajou em velocidade ainda muito inferior à que o senhor humildemente e ignorantemente sugeriu. Ele foi a pé.
- E não foi a pé para fazer caminhada, ficar sarado ou diminuir suas taxas de colesterol. Não! Ele assim se deslocou para manter contato com o povo. Para tocar e ser tocado pelo povo. Para escutar os clamores do povo.
- Durante seu ministério Jesus falou muito. Mas, Ele também escutou muito.
- Estariam seus ministros, hoje, dispostos a escutar o povo também?
- Caberia um mendigo cego (Lc 18:35) ou uma pobre ex-mulher rica (Lc 8:43) portadora de uma doença no mínimo nada higiênica em seus aviões ao menos para levá-los aos locais onde eventualmente pudessem encontrar um auxílio médico?
- Ou seria possível que tais deslocamentos super rápidos fariam com que tais ministros chegassem de modo mais imediato aonde os suas presenças se fizessem para auxiliar os mais desesperados?
- Não Pr. Carlos... de modo algum. Questionar as aquisições dos aviões por parte desses ministros não é manifestação de espírito de miséria coisa nenhuma. Longe disso.
- É manifestação sim, de um espírito de revolta e inconformismo com o que está sendo feito com o Evangelho da Graça, com o que deveria ser a pregação da única e última esperança para um mundo perdido e que, não obstante, tem sido transformado em fonte de lucro para a satisfação dos mais variados fetiches e desejos desenfreados de terem, ao invés de serem o que Jesus lhes determinou que fossem.
.