sábado, outubro 13, 2007

Dinheiro. O combustível do "evangelho", hoje.


Texto de Lukas Mello, extraido de uma comunidade do orkut com sua devida autorização.
(O Título, bem como a figura ilustrativa [quem vê, entende...] foram de minha responsabilidade.
Texto em resposta à repreenda de um irmão, no Orkut (http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=371618&tid=2558859225605715887&na=1&nst=1 ), pela manifestação de sua insatisfação com a deturpação da mensagem do Evangelho em nossos dias.
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- Agradeço as palavras. O que tenho falado é reflexo de uma verdade que acredito. Não me considero canalha, covarde ou coisa do tipo. O que falo sei que é um sentimento de muitos que já estão com um nó na garganta de tanto receber atrocidades espirituais em nome de um evangelho adulterado. Eu não me dou o direito de ficar calado quando vejo irmãos agredidos e quando a fé que professo é agredida em nome de um ensinamento brutal. A história é realmente dialética e gera tensões, mas o que ela me ensina é que não há nada que se envolva com soberba e corrupção que não venha à queda. Isso tem sido como um efeito dominó ou numa muralha que derruba muitos outros que estavam à sombra de seus ídolos. Meus pais me falaram que nos anos 80 o Jimmy Swaggart era uma espécie de SM americano, com o mesmo discurso, a mesma "autoridade" e se sentia o apologeta da moralidade. Conseguiu em pouco tempo montar um império financeiro através do tele-evangelismo e criou discípulos aos montes no Brasil ao ponto que alguma coisa só tinha fundamento se alguém dissesse "o Jimmy foi que...". Conseguiu um desafeto na cidade de Baton Rouge chamado Jim Baker que era outro televisivo e de quem ficou com a emissora e patrimônio de TV depois de um adultério que se tornou público. Baker sendo acusado por Swaggart passou anos a fio procurando um motivo para pegá-lo, o que veio a acontecer em 1988 num motel com Swaggart e prostitutas. O homem moralista e, denunciador, caiu exatamente onde ele havia se beneficiado anteriormente. Não quero atrelar essa história ao que estamos vendo, e em nenhum momento pensaria nisso, mas cito apenas para dizer que não há soberba que não tenha nada em oculto. Estamos vendo uma série de escândalos que serve para denegrir a imagem da fé que professo, desde dinheiro de contrabando em peças íntimas de mulheres de bispos até dólares escondidos em Bíblia. SM vai sempre à público e fala de perseguição da imprensa. Os casos recentes dos líderes da Renascer são fatos incontestáveis e os dois continuam idolatrados e defendidos como que sendo a imprensa que agride o Evangelho. Até o surgimento da IURD não havia motivos do evangelho no Brasil passar pelas provas de qualidade e de verdade. Pastores simbolizavam homens de Deus e eram respeitados por isso. Os anos 80 revelaram uma nova leva de pastores que enriquecem da noite para o dia com suas coberturas em Ipanema, haras para seus cavalos, mansões com elevadores panorâmicos, frota de carrões importados, emissoras particulares de TV e um discurso afinado de provisão divina e prosperidade por entender que a vontade de Deus é que se seja rico e que pobreza é sinal de pecado. Mostram-se como restauradores da nação através de suas igrejas que mais aparentam um banco financeiro que um centro de recuperação de vidas caídas neste país injusto. Elegem seus deputados, senadores que fazem lobby diante da justiça na hora de julgamentos por charlatanismo e lavagem de dinheiro. E nós, eu e você Walter, e muitos outros temos que ficar calados e sermos taxados de covardes e fakes por não concordarmos com essa gana de corruptos que estão ai. Eu optei por não aceitar isso, porque minha criação foi baseada numa família que mantém a índole acima de qualquer coisa. Filho de assalariados, nunca passei fome e fomos lutadores para estar onde estamos. Sempre fomos dizimistas e contribuímos para a igreja. Participamos ativamente da vida social religiosa e discipulamos novas pessoas. Nesse meio, temos que ensinar o bom viver cristão e o que é certo e errado. Falamos da honestidade por sabermos o significado dessa palavra no dicionário e na vida prática. Nossa fé não é apenas um show da fé, mas algo que se traduz em gestos assistindo aos necessitados e contribuindo na melhoria de suas vidas sociais. Não vivemos do “oba-oba” de divertir massas e negar a eles a verdade do evangelho, mas abrir a Bíblia e dizer o que realmente significa sua mensagem, sem mentiras, máscaras e sem nos beneficiar dela.
Eu imagino aqui como seria Jesus sentado numa cadeira de estúdio e tendo que se justificar de acusações de seus desvios de condutas ou defender o roubo de Zaqueu dos milhões desviados de impostos. Talvez fosse hilário Jesus não transformar os corações de seus discípulos, mas apenas dizer: “tragam seu dinheiro, pois eu preciso de mais um patrimônio no meu nome e isso fará progresso no evangelho que prego”. Como não seria interessante a caixa forte adquirida através de sua mensagem manipuladora em vez de falar a verdade. Será que ele se venderia por 40 mil dólares a alguém tendo sua boca alugada para condenar um outro? Isso não seria as suas 30 moedas de prata? Não, Jesus foi diferente e acima de tudo mostrou características boas para os seus discípulos ensinando a repartir as alpercatas e capas para o bem estar do outro.
Sua mensagem se traduzia em amor e era uma convocação a todos quantos seriam seus discípulos. Sua popularidade o levou a cruz, pois sua mensagem agredia apenas àqueles que queriam manter suas riquezas como eram o caso de saduceus e fariseus. Quando foi interpelado por alguém que queria o seguir ele apenas disse que não tinha onde reclinar a cabeça. Mas hoje é diferente: cantores têm cachês, bandas são ídolos e pregadores celebridades que tem ouro, prata e dinheiro lavado em bancos estrangeiros em operações criminosas. Desse evangelho ai eu estou fora. Esses cantores e pregadores não tem alimento pra minha alma. Suas práticas só podem ter uma atitude minha que é a de me opor, protestar e ao mesmo dizer que não temos obrigação de ver passivamente o evangelho ser considerado apenas como a ideologia de ladrões.
Quero me proteger e quero proteger o que creio. Quero entrar na minha faculdade de cara limpa e cabeça erguida e falar com os meus vizinhos que este evangelho que vivo transforma vidas e não é meio de fazer ladrões. Quero dizer a todos que existe algo de mais singelo, sublime e terno nas reais palavras de Jesus. Hoje é difícil de ver um pregador que tenha paixão pela sua prédica, pois a maioria só prega se tiver garantido os seus proventos antecipados. A cantora citada cobra R$ 1.000,00 por música cantada em eventos. Os novos talentos e as novas bandas se contaminam e entram nesse clima também e todos se acham merecedores porque o evangelho que vivem se traduz apenas em bens materiais e não na gratuidade de quem recebeu a salvação gratuitamente. Aí fica em nós o direito de escolher e eu escolho o que sou, mesmo sendo um “covarde”, “fake” ou coisa do tipo. Não importa o que possam dizer se está arraigado dentro do meu coração o direito de falar a verdade por não ter sido domesticado para viver na mentira. Eu sou isso mesmo e quero continuar sendo assim para poder olhar nos olhos de todos e dizer: TENHO CORAGEM DE SER DIFERENTE E COMPROMISSO PARA FAZER A DIFERENÇA.


Lukas Mello http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=10962835571026271828