quinta-feira, maio 28, 2009

Em cima... ou embaixo... Onde me achas, Jesus?

As recentes contendas entre irmãos, surgidas principalmente na CADB (Comunidade Assembleia de Deus no Brasil http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=371618) no Orkut, em virtude de uma análise da música “Faz um Milagre em Mim” (de Regis Danese) feita pelo Pr. Ciro Sanches Zibordi (http://cirozibordi.blogspot.com/2009/05/como-zaqueu-eu-quero-descer.html) têm me levado a reflexões que, inevitavelmente, me obrigaram a externar um parecer melhor elaborado a respeito dos fatos e ver, se possível, um pouco do incêndio ser apagado.
Pois bem, o simples fato de tal manifestação por parte dos irmãos, uns favoráveis ao comentário do Pr. Ciro, e outros contrários a ele (como eu) ter-se resultado em contendas, trocas de farpas, dissensões, chingamentos e demais ofensas já seria suficiente motivo para desabonar o tão bem elaborado (metodologicamente falando) trabalho do pastor. Mas, há algo mais.
“O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões” (Pv 10:12).
Diante do provérbio canônico aqui citado, sem o pretexto do isolamento de verbetes para embasar opiniões, quero chamar a atenção para a reprovável atitude do Pr. Ciro, lamentavelmente seguida por inúmeros partidários e compartilhadores de sua opinião, que aliás, respeito, embora não concordando. O amado e até “idolatrado” Pr. Ciro (autor de várias matérias que até já indiquei a alguns) não fez o prudente uso, no caso específico, da instrução e capacitação que Deus o tem dado para a instrução dos irmãos.
A análise textual feita por ele quanto à letra da canção de autoria do “novo convertido” Regis Danese seria uma maravilha, se numa aula de Hermenêutica Bíblica, de Exegese do Novo Testamento ou até de Filosofia e/ou Antropologia para análise com aprovação ou reprovação do Cristocentrismo.
Preciso deixar claro que não morro de amores pela canção, achando-a, no máximo, “legalzinha”, daquelas que de tanto ouvir a gente acaba que se flagra cantarolando. Todavia, diferente de uma enorme quantidade de irmãos nossos, também não a detesto, de modo algum. E, não farei aqui, também uma análise pormenorizada de sua letra, tal qual o fez o Pr. Ciro, até mesmo para não chover no molhado, uma vez que, também, vejo na letra erros teológicos e uma tendência ao antropocentrismo e desvalorização da Obra de Cristo em toda a ação monergista por Ele realizada para a salvação de todo o que n’Ele crer. Não é essa minha intenção.
Desse modo, compreendendo que há falhas teológicas na letra, preciso enfatizar que tais falhas não põem em risco a Doutrina bíblica da salvação nem tão pouco apresenta qualquer heresia perniciosa que possa, eventualmente, desviar alguma pessoa da fé. Pelo contrário, tenho sido eu mesmo testemunha da conversão de inúmeras pessoas tanto aqui no interior do Piauí quanto em Brasília (onde estive até o final de dezembro último) facilitada, direcionada, incentivada... por essa canção.
Dentre esses que vi se convertendo, alguns andam comigo, e têm aprendido dia a dia sobre a centralização da Pessoa de Cristo, de sua suficiente e ímpar atitude para a salvação de almas, enfatizando que não é subindo em nada, nem para nada, que se chega (obtém) à salvação.
O irmão Regis Danese, em entrevista à TV Record semanas atrás, informou não ter chegado nem à 6ª série. Não obstante, tanto para composição de letras românticas para cantores seculares, como para as composições (não menos românticas) para a música gospel e, ainda, para trabalhar como produtor musical, tem demonstrado rara habilidade.
Verdade é que, se acompanhado por uma pessoa mais experimentada (um pastor?), provavelmente teria ele providenciado alterações na letra da canção para melhor adequá-la teologicamente. Mas, se tal não se deu, e esse moço realmente tiver composto sua música em momento de quebrantamento de coração, deveras movido pelo Espírito Santo, nada de extraordinário ou inédito ele fez, crendo ainda, que tal composição não se deu com vistas à popularidade que sua música alcançou, sendo que, até os lucros (R$) advindos dela certamente não eram esperados pelo irmão em questão (ao menos eu duvido que ele esperasse tal faturamento).
Aliás, pelo Espírito fazemos, falamos, cantamos e oramos o que nem nós mesmos sabemos definir o que seja (Rm 8:26), engrossando o “time” do qual faz parte até o próprio apóstolo Paulo.
Claro, não vou aqui fazer uma apologia à ignorância, muito menos tecer um comentário depreciativo à necessidade da Teologia Acadêmica (da qual faço parte) para a elaboração e análise de tudo quanto cantamos, pregamos e fazemos. Mas, não posso deixar de exaltar a máxima de que, tanto os compositores de séculos passados, que têm suas canções eternizadas nas páginas dos Hinários, do Cantor e da Harpa, bem como vários e vários compositores modernos também deram suas derrapadas teológicas, no que não irei colocar nenhum exemplo aqui tão somente para que o debate não se assevere ainda mais, sendo que, algumas dessas derrapadas são sim, deveras prejudiciais à fé, diferente da inofensiva letra do irmão Danese.
O que faltou ao Pr. Ciro quando de sua análise foi um mínimo de bom senso e flexibilidade para afirmar, também, que tal canção pode causar muito mais benefícios do que malefícios no meio cristão. Afinal, apontem um crente que haja se desviado da fé ouvindo tal canção, ou um que afirme jamais querer se converter à fé por causa do teor dessa música.
O Senhor Jesus mesmo afirmou que “quem não é por Ele é contra Ele; e quem com Ele não ajuntasse espalharia” (Lc 11:23); e não é heresia inverter o texto, afirmando que “quem é por Ele não é contra Ele”.
Gostaria de ver o Pr. Ciro, ou mesmo seus apoiadores apontarem na letra da canção os reais perigos à fé cristã; que dissessem: isso aqui é perigoso! Ou: Eis aqui o mal! Ou, ainda: É esse o perigo que se corre cantando ou ouvindo essa canção! Mas, estou convicto de que tal é impossível.
Particularmente, indicaria outras canções, mais corretas para a exaltação da Pessoa de Jesus Cristo e da totalidade da Obra por Ele realizada para nossa salvação. Mas, estou convicto de que essa canção (“Faz um Milagre em Mim”), e tantas outras até mais mal redigidas do que essa também têm levado pessoas à reflexão, à introspecção, à curiosidade... quem sabe... de subir em alguma coisa (os muros de uma Igreja?), ou de descer a algum lugar (uma garagem nalgum porão de oração?) tão somente para ver quem é esse Jesus a cerca do qual tanto se tem falado.
O Senhor é Deus para fazer descer a uns, subir a outros (Sl 75:7). A uns Ele vê prostrados com rosto em terra e os deixa assim; a outros Ele manda que se levantem, que se ponham de pé. Paulo em Romanos 8, na lista do que não o separará do amor de Deus inclui, também, a altura e a profundidade (v. 39), deixando claro que nenhuma das situações, que são comuns à vida de qualquer ser humano, tem de fazer diferença quanto à máxima de se ter Jesus no centro de tudo, a cima de tudo, sendo verdadeiramente tudo em todos (Cl 3:11). Até porque, o mesmo Paulo também disse ter aprendido a viver contente em toda e qualquer situação (Fp 4:12), entenda-se que tanto estando por cima como estando por baixo, ou sobre alguma coisa ou mesmo sob alguma coisa.
Portanto, ao fazer sua unilateral avaliação, o Pr. Ciro só considerou a possibilidade de se ver a Deus, ou de ser visto por Deus estando por baixo, descendo, caindo (ou caído) e que, em se estando mais alto, mais elevado ou por cima de algo ou até de alguém não se vê a Deus ou não se é visto por Ele. Negligência, terrível negligência. Se assim fosse, nenhum rico, autoridade ou qualquer pessoa de elevada situação, quer seja financeira, de fama ou por que motivo seja, encontrar-se-ia com Jesus em algum momento de sua vida.
É válida, correta, bíblica... a interpretação de que a descida de Zaqueu da árvore tem de ser enaltecida ante sua mera atitude de subir tão somente para ver Jesus. Todavia, sua subida na árvore não pode nem deve ser vista como uma atitude de soberba, de arrogância ou de tentativa de se colocar em situação de mais elevada posição do que a dos demais, salvo pelo motivo biblicamente anunciado que o fez subir ali, ou seja, o de que era um homem de baixa estatura (nosso popular nanico). Os que vêem mais do que isso para condenar sua subida na árvore também estão indo além do texto e arranjando chifre em cabeça de jumento.
Na minha observação, pecou em muito maior grau o Pr. Ciro do que o Danese no tocante à composição e conseqüente análise em questão. Sim, uma vez que um agiu só com a boa vontade, movido pela emoção, pelo quebrantamento de coração, sem a (talvez necessária) bagagem acadêmica para tal ao passo que o outro, detentor de tamanho conhecimento (sim, o deve possuir dada à “saudável” ousadia em comentar com tão severa crítica) negligencia ao uso de sua totalidade (do conhecimento) para a avaliação do assunto levando em consideração todo o cenário que o cerca, bem como, todas as possibilidades avaliativas e aplicativas para o caso, mais ou menos, como um motorista que, embora possuindo vários retrovisores para olhar o trânsito à sua volta, despreza a existência de todos e, olhando tão somente para um deles faz sua manobra desastrosa e provoca um acidente completamente desnecessário e perfeitamente evitável.
Por fim, mantendo meu respeito e apreço pelo Pr. Ciro e por suas mensagens (não todas), termino repetindo uma frase que postei em um dos vários tópicos criados na Comunidade para abordagem desse tema, ou seja, “que o Pr. Ciro desperdiçou uma excelente oportunidade de se abster em fazer um comentário”.